Há contradições no nosso Governo que não consigo compreender. Nos últimos dias foram tantas que decidi partilhar o meu ponto de vista.
I - Aumenta-se o valor dos bilhetes dos transportes para que haja menos Estado na economia, mas depois dão-se subsídios. Qual a diferença (de principio) entre dar subsídios às pessoas ou dar compensações às empresas por terem tarifas mais baixas? Para mim, nenhuma. O que vai acontecer é que o valor do subsidio vai ser inferior ao valor das compensações. É o mesmo que dar com uma mão e tirar com duas.
II -Liberaliza-se o mercado da energia, para estimular a economia e a concorrência entre empresas (que não existem, por isso vai levar a um aumento dos preços) e depois dá-se um subsidiozinho a quem tem dificuldades. Ou seja, liberaliza-se/privatiza-se para que o Estado saia da economia e o mercado possa funcionar melhor, e quem sai prejudicado? O consumidor, para corrigir isso o governo resolve subsidiar.
III - Quanto aos subsídios a dar na energia, o Ministro da Economia falou que seriam perto de 5 milhões de euros para 850 mil famílias. O que dá a simpática quantia de 5.88€ por ano. Grande ajuda. Ou seja, o governo diz que vai liberalizar o preço da energia para que haja maior concorrência, mas por outro lado admite que os custos para os consumidores vão aumentar. De outra forma não iria disponibilizar fundos para subsidiar os que passam maiores dificuldades. Então para quê liberalizar os preços da energia? Para aumentar os lucros de empresas privadas monopolistas?
IV - Hoje ouvi uma parte da apresentação do Programa de Emergência Social, e o Ministro disse o seguinte: "É um programa que não significa mais Estado, significa sim mais IPSSs e melhor política social."
Então o Estado vai gastar 400milhões de Euros no primeiro ano e o Ministro diz que não há mais Estado? Eu percebo o que ele quer dizer, ele quer dizer que estes 400 milhões de Euros não vão ser aplicados pelo Estado mas vão ser dados aos privados para o gerirem à sua maneira. Portanto, há menos Estado e mais dinheiro para os privados. Chama-se a isto cortar as gorduras do Estado? Mais uma vez um exemplo contraditório.
V - Os membros do Governo falam há anos de que há Estado a mais em tudo e que deviam ser os privados a relançar a economia (com o subsídios claro está). Temos em Portugal 350 mil imóveis à venda. Milhares de casas entregues aos bancos e imobiliárias. E o Estado vai-se meter nesse assunto e promover o arrendamento de imóveis desocupados? Os privados não sabem fazer isso? Os empresários e os membros do governo que tanto falam do excessivo peso do estado, que queriam o "Estado fora dos negócios" e agora é o próprio governo que vai dar uma ajudinha a empresas privadas a arrendarem imóveis? Não entendo estas contradições.
Tens de deixar o Gonçalo Cadilhe e dedicar-te mais ao velho Aristóteles. Vais ver que percebes num instante.
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