domingo, 1 de abril de 2012

OPA sobre a Brisa- II

Não resisto em voltar ao tema da OPA sobre a Brisa lançada por uma parceria em que se encontra o Grupo José de Mello.

Depois de hoje (ontem) o actual Presidente da Câmara do Porto e ex-vice Presidente do PSD ter dito que achava "inadmissível" que a CGD financiasse um negócio destes. Não se trata de ser apenas inadmissível, trata-se de mais uma vez se puderem estar a misturar interesses privados com interesses públicos.

Que eu saiba a Caixa Geral de Depósitos ainda é um banco público. Detido pelo Estado Português, e não pelo Governo Português. A CGD de de todos nós (teoricamente já sabemos).

Ora, um dos administradores da CGD, escolhido pelo actual governo, é António Nogueira Leite.

Que afirmou que não ia para a CGD trabalhar pelo dinheiro. Na ida para a CGD o "dinheiro não é um assunto essencial", isto porque é uma pessoa que está habituada "a gastar pouco" e por isso pode "viver com pouco".

Curiosamente, disse isto sabendo que há uma excepção na lei do Estatuto dos Gestores Públicos que lhe irá garantir um salário bem superior ao do Presidente da República. Uma das bandeiras do partido que suporta a coligação do Governo. Não é uma medida com que eu concorde, mas andar a defender isto quando se está na oposição e fazer o contrário quando se governa já é algo que os partidos do poder em Portugal nos habituaram.

Depois da questão da excepção do salário, António Nogueira Leite disse que afinal "mais importante do que os salários é a CGD reganhar independência".

Bem, estive a ver o currículo de António Nogueira Leite e é de facto maravilhoso. Digo-o sem qualquer tipo de ironia.

Estamos a falar de uma pessoa que aos 21 anos licenciou-se em Economia na Universidade Católica Portuguesa, aos 24 e 26 anos tinha um Mestrado e um Doutoramento em Economia na Universidade do Illinois. Aos 30 anos tinha a Agregação em Economia na Universidade Nova de Lisboa. Aos 33 anos era já Catedrático na Universidade Nova de Lisboa. Uma ascensão no mínimo fantástica!!!

A chegada a Catedrático dita (mais ou menos) o inicio dos cargos de administração em várias empresas, algumas pública, outras privadas. Houve de tudo um pouco. Até que em 2002 chega à administração da BRISA, da CUF e da Quimigal, 3 empresas com capitais do Grupo José de Mello, em representação desse mesmo grupo.

Diz também ter sido "director-geral da José de Mello, SGPS, S.A., com responsabilidade global sobre Planeamento Estratégico" e que "no âmbito dessas funções foi membro dos seguintes órgãos sociais, no Grupo José de Mello:" e em seguida são apresentados 15 (Quinze) cargos de administração no Grupo José de Mello ao longo dos últimos 10 anos.

Isto de se sair da administração de um grupo privado, seguir para a administração de um banco público e em meia dúzia de meses esse mesmo grupo privado ter recorrido ao banco público para financiar uma OPA no valor de 700 e picos milhões de euros (2/3 deste valor a dividir por 3 bancos, entre os quais a CGD) é no mínimo estranho.

Quero deixar bem claro que não quero, de forma nenhuma, pôr em causa a idoneidade e as capacidades de gestão de António Nogueira Leite. Alias, acabei de fazer um elogio a forma como batalhou/estudou/trabalhou para chegar onde chegou.
Mas, não deixa de ser curioso o facto de um banco público, administrado por uma pessoa que acabou de sair de uma empresa privada, responsável global pelo planeamento estratégico, que se diz com dificuldades de liquidez e necessita de mais 1000 milhões de euros inscritos no orçamento rectificativo de 2012 para cumprir rácios de liquidez, ir apoiar agora um investimento desta ordem de grandeza na actual conjuntura da economia Portuguesa.

Será que é deste tipo de promiscuidade entre o Estado e empresas que falava em 2010 Lobo Xavier?
Será que é deste tipo de promiscuidade que falava em 2010 Paulo Ranger?

Não sei, mas que é curioso, lá isso é!

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