sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Responsabilidade política

Hoje o Primeiro Ministro fez um discurso muito inteligente.

Começou por falar na necessidade de serem precisas medidas que nos permitam continuar a existir. Ou seja, ou são estas medidas ou então é uma catástrofe. Uma perspectiva negativa caso não se aceitem as medidas propostas pelo governo.

Em seguida, apresentou essas mesmas medidas ditas necessárias.

Terminou dizendo que só está a tomar estas decisões porque os últimos anos foram péssimos para o país a nível económico e financeiro.

Depois de anos a ouvirmos falar em gorduras do Estado, ainda não percebemos onde estão as gorduras do Estado. Eu pelo menos não. Alias, dá ideia que estão na saúde e na educação. Resta saber onde.

Relativamente ao passado, vamos a factos:

No ano de 2007 o défice da Administração Pública foi de 3.1% do PIB e a dívida pública era de 68.3%. Na Europa dos 27 a média era de 66.2% e na zona Euro de 59%.

No ano de 2008, ano em que começou a crise económica a nível internacional o défice foi de 3.6% e a dívida pública atingiu 71.6% (+3.3%).

Nestes dois anos, Portugal não cumpriu o pacto de estabilidade da zona Euro que impõe défices máximos de 3.0% do PIB e dívida pública de 60%. Acontece que, foram vários os parceiros do Euro nestas condições.

Em 2008 a dívida pública dos países da zona Euro atingiu 62.3% (+3.3%) e na EU-27 foi de 69.9% (+1.6%) do PIB.

Portanto, até ao final de 2008 Portugal andou, relativamente alinhado com a média dos restantes Países da Europa no que diz respeito a endividamento e défice.

O ano de 2009 foi um ano de recessão no nosso País (-2.6%), na zona Euro (-4.1%), na EU-27 (-4.2%), nos EUA (-2.6%) e também no Japão (-5.2%).

Portugal teve um défice de -10.1% do PIB e a nossa dívida do Estado subiu de 71.6% (2008) para 83.0% (2009). Houve um crescimento de 11.4% da dívida do Estado. Qualquer coisa como 15 mil milhões de Euros.

Na zona Euro o crescimento foi de 9.4% (69.9% para 79.3%).
Na EU-27 o endividamento cresceu 12.1% (62.3% para 74.4%).

Relativamente aos países da "Europa dos 27" a diferença já é considerável, mas quanto aos países da zona Euro, a diferença não é muito significativa (3.7%).

Até esta altura, Portugal era um país como dificuldades. Dificuldades partilhadas pelos restantes parceiros Europeus e não éramos vistos como "maus alunos".

Entretanto vieram as eleições e o governo deixou de ser maioritário. Necessitando de apoio parlamentar para aprovar o Orçamento do Estado.

Em 2010 o Orçamento do Estado foi aprovado com os votos a favor do PS, abstenções do PSD e CDS e com os votos contra das restantes bancadas parlamentares.

No ano de 2010 o défice foi de -9.8% e o endividamento externo chegou aos 93.3% do PIB. Por sua vez, o endividamento dos países europeus subiu, mas menos do que em Portugal. Atingiram 80.0% na EU-27 e 85.1% na zona Euro.

Em 2011 o Orçamento do Estado foi aprovado com os votos a favor do PS, abstenção do PSD e o voto contra das restantes bancadas parlamentares. É esperado um défice de -5.9% e a dívida pública deve chegar a 100.8% do PIB.

Nos últimos 2 anos o endividamento externo aumentou dos 83.0% para 100.8% do PIB. Durante estes dois anos os Orçamentos de Estado foram aprovados com votos favoráveis do PS e abstenções do PSD em dois casos e uma vez pelo CDS.

Já vimos que o crescimento da dívida pública dos países Europeus foi algo comum a todos eles e que Portugal não teve valores significativamente superiores aos dos restantes países, a não ser nos últimos 2 anos.

Deixo 4 questões:

-Será que os partidos que viabilizaram os últimos dois OE não estão ligados a este período negro da nossa história económica/financeira/social?

-Será que estes partidos, os actuais partidos do governo, se podem demarcar do aumento de dívida por parte do Estado Português nos últimos dois anos e dos défices excessivos?

-Será que o anterior governo agiu sozinho, sendo o único responsável pelos resultados obtidos com a execução dos OE?

-Se os últimos dois orçamentos eram maus e nos trouxeram até aqui, porque foram aprovados?

Esperamos que os próximos dois anos passem rápido e que Portugal possa voltar a sorrir.

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